Para falar de um grande jornalista que foi John Steinbeck, nada melhor que um dos mais renomados profissionais da área em Mato Grosso do Sul, como o professor Eron Brum. Graduado em Jornalismo pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), Mestre e Doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo(USP).
1) Como e onde conheceu as obras do autor?
EB – Foi lá pelos anos de 1970. Li referências ao livro Viagens com Charlie no jornal O Estado de São Paulo e gostei da trama. É um romance com estilo de livro reportagem. Steinbeck transformou um caminhãozinho em motor home e realizou uma série de viagens pelos Estados Unidos em companhia de Charlie, seu cachorro. Suas rotas eram fora das cidades e lugares badalados. Conversou com pessoas simples, ‘invisíveis’, e descobriu outra nação. Recomendo aos jornalistas que leiam esse livro e, depois, lembrem-se sempre dele quando estiverem entrevistando os detentores de poder – político, intelectual, econômico - e dêem voz também aos anônimos. Vão ficar surpresos.
2) Quais obras são as preferidas?
EB – Pergunta difícil de responder, em especial quando se trata de Steinbeck, um dos três autores estrangeiros do século passado que mais gosto (os outros dois são Italo Calvino e Herman Hesse). Mas, vamos lá. Penso que a trilogia Luta Incerta (1936), que relata a luta dos trabalhadores agrícolas da Califórnia, Ratos e Homens(1037), sobre as relações e conflitos de dois trabalhadores imigrantes, e As vinhas da ira(1939), a saga e o sofrimento da exploração dos trabalhadores itinerantes e sazonais – é um caso semelhante aos nossos bóias-frias – este terceiro considerado pelos críticos como a sua obra-prima. Não posso deixar de citar um livro especial, Romance Reportagem(primo dos nossos conhecidos Livros Reportagens), Um diário russo(1947). O tema é fascinante, pois Steinbeck viajou para a então União Soviética, durante o período chamado de Guerra Fria, para checar o ‘outro lado’ das informações veiculadas pela impressa norte-americana. Outra grande lição de jornalismo. E para terminar as citações, outro livro fascinante: A rua das ilusões perdidas.
3) Como utiliza o conhecimento que tirou dos livros no dia-a-dia, tanto na vida pessoal como no trabalho?
EB – A ficção é sempre uma grande e boa surpresa, pois, na maioria das vezes, é pura realidade. O jornalismo busca a objetividade, trabalha com o lado visível dos fatos. A ficção, ou melhor, a literatura, nos ensina a mergulhar no invisível, lugar rico de realidade. Juntando as duas coisas, o visível (jornalismo) e o invisível (literatura, ficção), o jornalismo e o nosso cotidiano se enriquecem. Veja só que fantástica esta frase: “Quando a gente volta tudo àquilo que gostaríamos que estivesse igual está diferente, e tudo aquilo que gostaríamos que estivesse diferente está igual”. A frase não é de Steinbeck, mas de outro escritor norte-americano. A garimpagem desses fragmentos nos livros ajuda a pavimentar o nosso caminho em busca de conhecimento.
4) O que mais admira no autor?
EB - Três coisas: a temática (social-política), a capacidade de extrair o outro lado dos fatos, normalmente aquele lado obscuro, feio, escondido, cruel; e o texto leve e carregado de conteúdo.
5) Qual a semelhança e diferença que encontra nos jornalistas de antigamente com os de hoje?
EB - Não gosto muito de comparar, pois o jornalismo é uma das áreas do conhecimento que mais sofre mudanças. Como o jornalismo é iluminado pelos holofotes do conhecimento das outras áreas, as transmutações são inevitáveis. Hoje, por exemplo, ainda não assimilei o Jornalismo de Espetáculo, Jornalismo Show, ou o Jornalismo dos Manuais. São necessários? Sim. Prefiro ficar por aqui.